domingo, 12 de outubro de 2014

Dia das crianças

Quando eu era criança é uma frase que os adultos adoram falar, ainda mais no dia de hoje. Eles gostam de recordar um tempo dourado, com brincadeiras o tempo todo, com os pais e avós , com irmãos e primos , com peraltices e coisas engraçadas. Festas de aniversário , cachorros, sustos e parques de diversão. Então vamos lá , eu também quero brincar de quando eu era criança.

Quando eu era criança , São Paulo era uma cidade grande , claro, mas um pouco diferente. Os adultos eram sérios, não se misturavam com os pequenos, não usavam as mesmas roupas, não deixavam as crianças mandarem, era possível jogar taco ( uma espécie fuleira do baseball ) nas ruas , a escola não era tudo, a televisão só algum tempo, futebol nos campinhos e na várzea era o tempo todo, as meninas achavam os meninos chatos e vice-versa . Os vizinhos eram diferentes , suas mães faziam comidas gostosas ; o feijão era de outra cor, as esfihas e as pizzas, as lasanhas e o peixe cru, sem falar na carne de sol. Festas de aniversário tinham os mesmos doces, feitos pelas mães , avós e vizinhas , ganhava-se lenços, meias, cintos e , com alguma sorte, livros , times de botão ou bugigangas.

Se aquele tempo era melhor ? Isso eu não sei. Era um império das imaginações. Escutava-se futebol no rádio e os locutores narravam jogos incríveis, mesmo nos zero a zero. A Jovem Guarda e os Beatles pareciam ser tudo . Os anéis de camelô e as figurinhas, os ioiôs e as revistinhas eram os objetos dos sonhos. Todos mentiam e acreditavam , dormir depois depois das dez horas da noite era impossível.

Depois, muitos anos depois, claro, fui pai e convivi com uma criança muitas horas dos meus dias. Já era outra a cidade, Mesmo assim, tentei, dentro do possível, evitar os excessos de uma radical modernização , a meu ver nociva , no processo de educação. Assim, meu filho aprendeu a ver as horas em relógios de ponteiro , jogava futebol mais que videogame ( isso no começo ) , frequentava o Teatro Municipal , lia e ouvia estórias, aprendeu algarismos romanos, andou desde os seus nove anos sozinho nas ruas, ouviu frases do tipo hoje eu não posso te comprar isso porque não tenho dinheiro, teve a sorte de ser nosso companheiro em todas as viagens que fizemos , enfim, creio eu, teve uma infância feliz.

Mas hoje é hoje. E , assim, penso na criança que fui , que sou e que serei. E como o dia é meu, posso pedir um presente. E já sei que vou pedir. Quero que o tempo passe rápido ( mas só um pouquinho ) para que o meu companheiro de brincadeiras cresça e que possamos ser a dupla mais amiga e inseparável de todas as aventuras. E quando o meu amiguinho falar que os pais deles não deixam ele fazer alguma coisa que não compreendemos o porquê , farei como nos meus tempos de pequeno, não discutirei e sim, vamos brincar de outra coisa ?

E assim, Theo e Rick vão tomar sorvete , chegar atrasados , ter segredinhos, se entenderem só no olhar, ter saudades um do outro, ensinar o que um sabe e outro não, e, claro, convidar o pai dele para brincarmos juntos.

Para todos , um feliz dia das crianças;  

Nenhum comentário:

Postar um comentário