sexta-feira, 15 de maio de 2015

O rei e eu

Conheci o blues de BB King no comecinho dos anos setenta, pelos dedos mágicos de Duane Allman. O grande guitarrista tinha morrido recentemente e a Atlantic , acho eu ( não estou com os meus vinis aqui ) lançou um disco duplo , uma antologia. Fiquei encantado com as letras de King. Uma música falava de um anjo de mulher que aceitava tudo, outra era o seu oposto, tudo estava ruim. Bem, assim são os blues , hoje sei.

Mas eu queria ouvir a guitarra do Rei , sem passar por intermediários. E nunca achava discos dele. Consegui uma faixa no disco de festival, o Mar y Sol, onde ele tocava e cantava Why I sing the blues.Com metais, com sua voz e com seus solos. Era algo arrebatador .Até que encontrei , numa ridícula lojinha na Gabus Mendes com Basílio da Gama, perto da Praça da República , um álbum para chamar de dele. Capa vermelha, anunciava a Incredible soul of BB King . O vendedor era um afrobrasileiro como se diz agora, chamado Cláudio, mas apelidado de Italiano. Íamos  meu amigo Henri e eu sempre comprar discos lá. Ele dava descontos tão absurdos que às vezes  achava que era algo totalmente ilícito, mas enfim, eram assim aqueles dias.

O disco, uma prensagem tosca da gravadora Imagem era muito ruim. Não só a qualidade técnica. O disco fazia da voz do BB King um crooner e seus solos eram pingados, como se ele quisesse imitar o Keith Richards. Mas enfim, escutei-o muitas vezes e não me lembro de ter outro disco dele. Ah, claro, dele com o Clapton, mas aí era mais do Eric.

Vi um show dele no Palace, fui com tanta gente que nem me lembro quem me acompanhava. Só sei que até minha mãe foi ! Aí pude entender o porquê dele ser Rei. Ele solava igualzinho em todas as faixas, mas diferente. Imitava as paqueras e o paquerador, deixava os metais entrarem com força e ele os incentivava , e que guitarra linda era a Lucille. Naquele show ele tocou canções de um filme com a Michelle Pfeiffer que havia se encontrado com um insone. E eu, que sempre fui insone, fiquei rolando na cama imaginando a loira e o blues.

Ele andou vindo para novos shows , no Bourbon ou sei lá onde, com preços absurdos. Perdi o tesão, o blues tem esses defeitos. Aos oitenta e nove anos ele foi embora. Mas calma, foi tirar um som com o Duane Allman e me mandou um recado : o menino que comprava discos com seu amigo Henri, outro morador do céu, não precisa chorar. Afinal, foi para nos deixar felizes que ele cantou o melhor blues do mundo.  

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